"Onde Estivestes de Noite" de Clarice Lispector

"Tenho que falar pois falar salva. Mas não tenho uma só palavra a dizer. As palavras já ditas me amordaçaram a boca. O que é que uma pessoa diz à outra? Fora 'como vai?' Se desse a loucura da franqueza, que diriam as pessoas às outras?"
Classificação: ★★★★
A coletânea de textos de 'Onde estivestes de noite', de Clarice Lispector, foi publicada pela primeira vez em 1974. São 17 crônicas trágicas e cômicas, onde as dores e as aflições do cotidiano banal são reveladas ora por descrições angustiadas e delirantes, ora por detalhes bizarros, risíveis, bem-humorados. Os textos reunidos desenham um conjunto heterogêneo, onde é possível identificar o tom das crônicas que Clarice Lispector publicava. Alguns sofreram um deslocamento, pois já tinham sido publicados anteriormente, outros foram extraídos de romances e submetidos a ligeiras modificações, procedimentos que indiciam a urgência que a autora tinha de escrever para garantir sua sobrevivência. Passo a passo, as narrativas vão compondo uma cartografia de impressões, sensações, notícias da vida carioca, onde figuram também amigos, referências afetivas e artísticas.
Apreciação Crítica:
Há dois grupos principais de contos neste livro: uns que aliam o poético a situações mais cotidianas, e outros que embarcam numa viagem na estranheza e no surrealismo de Clarice.
Contos incríveis e cheios de significados, eles são tristes, mas lindos. Meus contos preferidos foram "A partida do trem", "Tanta Mansidão" "Esvaziamento" e "Tempestade de almas".
Recomendo ler os textos mais "psicodélicos", digamos assim, em voz alta, tentando seguir o ritmo das palavras. O ritmo faz toda diferença na experiência de leitura desses trechos, faz com que tudo se torne mais interessante e encontra sentido no som ou no atropelo da voz.